domingo, 16 de junho de 2013

Forma

Para existir, é preciso pertencer. Nós, águas, só nos sentimos realmente vivas quando estamos certas de que pertencemos a algo ou a algum lugar. Ser água por água é não ser coisa nenhuma. Isso talvez justifique nossa aparente indefinição.

Somos líquidos submissos e vulneráveis ao que nos venha possuir. Se estamos no copo, somos cilindro; se estamos no rio ganhamos a forma do leito; se estamos no mar, temos gosto de sal. E vivemos em busca do que nos possa definir da maneira mais confortável. Vivemos presos à necessidade de ser algo, de ser alguém. De ser de algo, de alguém.

E assim como a água do copo precisa estar dentro dele, o copo da água precisa dela para estar completo. O leito do rio sem água não é rio, a água do rio sem o leito, tampouco. É por isso que nos tornamos nuvens, invadimos os corpos, despencamos nos lagos, nos arrastamos até o mar. Vivemos inquietas e inconformadas, temos saudade de onde viemos, queremos ter pra onde ir.

E embora nossa forma instável nunca mude, almejamos, ao menos, a estabilidade que só o pertencimento nos rende. Seja cálice, seja lagoa, seja o que for. Assim, as partes do mundo se constroem quando, na indefinição,  se aliam ao que têm como fonte de completude.

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