terça-feira, 15 de janeiro de 2013


Lembra quando tudo tinha a cor do que tinha? Quando o branco indefinido se desdobrou num prisma de sete tons puros e coloriu por completo nossas inquietações? Lembra que, na floresta, o mandruvá era só uma larvinha estranha e a girafa, uma criatura invejosa cujo pescoço era elevado para ocultar a mentira que lhe corava o rosto?

Lembra que os bêbados tomavam remédio de cavalo pra aumentar os músculos? Lembra que a gente fingia poder julgá-los? E quanto ao Duque que perdia a nobreza escorrida em tremeliques e risos fingidos? Era tão fácil ver as cores, Carol! Era tão bom pintar o mundo de sarcasmo quando o conflito vinha em preto e branco!

Era bom rir dos falsos nerds, das farofas, das titicas. E nossa maldade era justa. Queríamos pingos nos is e ignorávamos qualquer peso na alma pelo mero gostinho de recolocar cada cor no pedaço certo do arco-íris que lhe cabia.

Na pele de justiceiras, não sabíamos de nada.

A dor se meteu nisso tudo quando as interseções cromáticas entre uma faixa e outra resolveram dar as caras. Nada era cor e cor. Tudo era cor sobre cor. E com tanta bagunça, as coisas têm estado mais difíceis. Porque nos demos conta de que entre o sim e o não haverá sempre uma palavra morta que rege em silêncio toda dicotomia. Ninguém sabe dizê-la, tampouco enxergar a cor que ela tem. 

O mesmo mistério se aplica as cores de transição daquele nosso velho arco-íris. Cores, cores, dores! Pra que tanta mistura e ambiguidade, meu Deus?! Por que tanta cor sem nome? E por que precisamos enxergá-las? 

Ainda tenho pra mim que viver feliz seja fazer vistas grossas. São sete cores e só, pronto, acabou.

De qualquer forma, me avise se tiver outra ideia.
E me escreva quando puder. Estou com saudade da gente.

Beijo 
De sua eterna amiga e diário ambulante.

Lívia