quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

banho maria

Meio dobra, meio laço?
Meio falsa e verdadeira?
Sou só uma e não retalhos
na mão de uma costureira!

se me arrancam um pedaço
eu me perderei inteira.

Vá ou fique pro jantar
Dê me tudo ou me dê nada
Não me peça pra voar
com parte da asa quebrada.

Meia asa não me serve
Meio certo é cinismo
Mais ou menos é disfarce
Água morna é meu abismo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Convite

Volta pro seu mundo
pois lá tem gente que nem eu
há tanto tempo te esperando
e você nem percebeu.

abril de 2010

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O jardim secreto e o despertar da primavera



Das lembranças que tenho da infância, a do jardim secreto de Mary Lennox foi uma das mais marcantes. A história de um universo escuro que se abria frente ao sol me acendia para o mundo e me fazia florescer, ainda que eu não entendesse bem o efeito daquilo . Tanto o desenho (1994) quanto o filme de Holland (1993) foram, por anos, meus preferidos na locadora. Cheguei a perder as contas do quanto aluguei aquelas fitas.

Em uma das cenas mais bonitas da versão animada , as crianças olharam para o jardim morto e cinzento e quase desistiram de restaurá-lo. Foi então que o pequeno Dickon cortou o tronco de uma das árvores e percebeu que, por dentro, ele estava verde. E tudo passou a valer a pena, quando algo respirava ali. Trabalhar por um lugar mais bonito era compreender que enquanto houvesse vida no tronco, haveria promessa de flores para a próxima estação.

Às vezes nos sentimos mortos. Por dentro e por fora. Por um instante, nada mais dói, nada mais vale e só o silêncio combina com o que temos a oferecer ao mundo: o vazio. Mas algo fere nossa superfície de repente e o sangue que nos escorre acorda aquilo que parecia já ter morrido. Bons ventos inesperados sopram súplicas em nossos pulmões e pedem a vida de volta até agarrarmos o compromisso de escrever nossa própria história.

Assim, jardins se erguem todos os dias na Terra. Vidas começam de novo e flores enfeitam asfaltos, onde também crescem árvores com o xilema e o floema a todo vapor. Ali, apesar das rachaduras no terreno, só há espaço para contemplar o que é bom. Quem olha bem próximo ao chão, percebe o esforço das raízes que empurram a seiva bruta para as folhas como uma engrenagem que não se cansa. E quando o verde renova as ruas, é só a vida avisando que é hora de ser feliz.