os bichos se espelham em mim
eu me espelhava no céu
até quando veio a primeira chuva
minha imagem era intangível, distante e confortável
olhava as nuvens
e minha correnteza se desenhava em algodão lá em cima
ao meu modo
me dando as formas e cores que eu bem entendesse
até o céu se desmanchar em chuva e vomitar sobre mim
pela primeira vez
o meu forjado reflexo condensado em tempestade
na tempestade, o jovem rio se desdobra
sob o sol, ele se encanta com o colorido dos peixes
com o verde vivo das algas
e segue orgulhoso como se fosse as coisas que o acompanham
mas a chuva o atravessa com pingos de sua matéria
então traz a verdade à tona:
você não é peixe
você não é alga
você é água
sem cor, sem sabor, é só água
o rio tenta correr como pode
até se dar conta de que a correnteza sempre o arrastará para suas margens
a tormenta do rio em meio à primeira chuva se resume a isso
ao incômodo, à surpresa e à decepção de saber o que é
o fluido frio e inconsistente
que embora vazio
alimenta a terra
Um comentário:
Bravo! Além de belíssimo, muito bem escrito.
GK
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