quinta-feira, 13 de junho de 2013

Confissão do Rio Timor

os bichos se espelham em mim
eu me espelhava no céu
até quando veio a primeira chuva

minha imagem era intangível, distante e confortável
olhava as nuvens 
e minha correnteza se desenhava em algodão lá em cima
ao meu modo
me dando as formas e cores que eu bem entendesse

até o céu se desmanchar em chuva e vomitar sobre mim
pela primeira vez
o meu forjado reflexo condensado em tempestade

na tempestade, o jovem rio se desdobra
sob o sol, ele se encanta com o colorido dos peixes
com o verde vivo das algas 
e segue orgulhoso como se fosse as coisas que o acompanham
mas a chuva o atravessa com pingos de sua matéria 
então traz a verdade à tona: 
você não é peixe
você não é alga
você é água
sem cor, sem sabor, é só água

o rio tenta correr como pode
até se dar conta de que a correnteza sempre o arrastará para suas margens

a tormenta do rio em meio à primeira chuva se resume a isso
ao incômodo, à surpresa e à decepção de saber o que é
o fluido frio e inconsistente 
que embora vazio
alimenta a terra

Um comentário:

Gugu Keller disse...

Bravo! Além de belíssimo, muito bem escrito.
GK