sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Carta ao paraíso

Doía ser mulher
doía no estômago

Doía ser santa
a escrava da moral invisível
Doía ser puta
a dona da carne perecível

Doía ser refém do desejo dele
mas doía não tê-lo

Doía ser tanto
e no entanto
valer pela cor do cabelo

Doía não ter voz
e ter tudo pra dizer
Doía, adia em nós
Doía ter que ser

Doía ter que respeitar
Doía ser o pecado
Doía ter medo de andar
Pra escapar de tarado

Doía, Eva

Doía ser refém
usar salto
decote e sainha
pra se sentir viva e bem

Doíam a obrigação de ser bela
e a hipocrisia a nos engolir
Doíam os concursos de beleza
os contos fajutos de princesa
Doíam mais que o bisturi






E dava medo, Eva
Dava medo de existir.