Doía ser mulher
doía no estômago
Doía ser santa
a escrava da moral invisível
Doía ser puta
a dona da carne perecível
Doía ser refém do desejo dele
mas doía não tê-lo
Doía ser tanto
e no entanto
valer pela cor do cabelo
Doía não ter voz
e ter tudo pra dizer
Doía, adia em nós
Doía ter que ser
Doía ter que respeitar
Doía ser o pecado
Doía ter medo de andar
Pra escapar de tarado
Doía, Eva
Doía ser refém
usar salto
decote e sainha
pra se sentir viva e bem
Doíam a obrigação de ser bela
e a hipocrisia a nos engolir
Doíam os concursos de beleza
os contos fajutos de princesa
Doíam mais que o bisturi
E dava medo, Eva
Dava medo de existir.